quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Galo embriaga São Paulo e começa Libertadores com vitória incontestável



Por Maurício Pauluci


Atlético vence o tricolor paulista por 2 a 1, com ótima atuação
 de Ronaldinho, que se envolveu em lance curioso

R10 comemora gol da vitória com Réver. (Foto: Bruno Cantini)

Quem encheu a cara nesse carnaval deve saber exatamente como São Paulo se sentiu na partida contra o Galo na estreia das equipes na Libertadores 2013. Foram treze anos sem disputar o torneio intercontinental, mas o Atlético parece ter ficado com a motivação latente nesse período. Parecia um boi esperando ansiosamente a abertura da porteira para derrubar o peão em oito segundos. Com uma pegada muito forte e uma marcação precisa, o Galo fez uma partida muito boa, com um ímpeto incrível, mas sem demonstrar afobação e mesmo levando uma pressão o fim, saiu com os três pontos. Apesar de ter um time com muitos jogadores com idade avançada, parecia estar em campo um equipe com fôlego de garoto.
Inversão tática do Galo
Diego Tardelli retornou ao Galo com uma recepção quase que de um santo. O atacante já chegou botando banca e falando que gostaria de jogar na esquerda, posição muito bem exercida por Bernard na última temporada, além de ter pegado a camisa nove de Jô, que teve que aceitar a sete. No entanto não é fácil para Cuca desbancar Bernard. Então o treinador atleticano resolveu fazer um carnaval da defesa do São Paulo. Por várias vezes Tardelli e Bernard invertiam as pontas deixando a marcação da defesa tricolor maluca. Os defensores Lúcio e Rhodolfo são experientes e técnicos, mas lentos.
Em 2012, as laterais do Galo foram um trunfo da boa campanha do time na temporada, principalmente com as investidas ofensivas de Marcos Rocha. No entanto, o que se viu na partida desta quarta-feira foram Júnior César  e Marcos Rocha muito menos incisivos e presentes no ataque, até porque os flancos do Galo estavam sendo bem ocupados por Tardelli e Bernard.
São Paulo apático no primeiro tempo
O Atlético pôs o São Paulo na roda no primeiro tempo, principalmente. Apesar de trocar passes muito bem o time não conseguia acertar o último passe, e a bola não chegava ao centroavante  Luís Fabiano. Paulo Miranda fez uma partida muito ruim, errava passes de meio metro. Jadson, que até então vinha fazendo ótimos jogos, recebeu uma forte marcação de Pierre e não conseguiu jogar.
Jogada ensaiada ou falta de Fair Play?
Acho que o primeiro gol do Galo, do atacante Jô, merece um comentário especial. A jogada é curiosa, Ronaldinho vai até Rogério Ceni, pede um gole d’água, na camaradagem, para o goleiro tricolor, enquanto o jogo está paralisado para o atendimento de Júnior César. Para o delírio dos comentaristas de arbitragem, que puderam explicar que na cobrança de lateral não tem impedimento, Ronaldinho ficou ali, na miúda, na banheira, esperando o lançamento de Marcos Rocha. O lateral fez um arremesso perfeito e, com a zaga do São Paulo desprevenida, o Atlético chegou a primeiro gol com Jô.
É preciso frisar, também, que a zaga tricolor foi muito juvenil no lance. Apesar do jogo estar parado, os defensores do São Paulo não podem nem tirar o olho de um craque como o Ronaldinho.
Que me perdoem os admiradores do acaso, mas eu tenho certeza que foi uma jogada combinada. O R10 corre claramente para a esquerda e fica esperando a cobrança do lateral. No desenrolar da jogada Ronaldinho mal olha para área porque algo já dizia a ele que Jô estaria lá. Jogada ensaiada e pra mim falta de Fair Play. Alguns chamam de malandragem, mas o fato é que o Ronaldinho forjou uma situação, que envolveu a boa vontade e companheirismo de Rogério Ceni, para tirar a vantagem e construir a jogada do gol.
Não que eu discorde, mas o lance tem a mesma essência daquela jogada do Luiz Adriano, do Shaktar, na Champions League. A verdade é que eu acho o Fair Play obrigatório uma palhaçada e eu acredito que são lances oportunistas e provocativos como esse que fazem o futebol ser divertido e tão interessante.
Segundo tempo: Galo cansou e tricolor melhorou
O São Paulo conseguiu sua primeira finalização no jogo apenas no segundo tempo. Ney Franco parece ter percebido que a linha de passe do tricolor paulista não estava conseguindo furar a muralha defensiva do Galo, que teve no primeiro tempo um Réver impecável. O treinador do São Paulo deve ter dado um tapinha nas costas do Osvaldo e falado “Vai pra dentro deles, meu filho”. Porque a correria e o individualismo do ponta eram boas estratégias para furar o bloqueio mineiro.
Parece que o treinador tricolor deu um Engov para os jogares no intervalo, que voltaram muito mais sóbrios e com mais energia. O futebol de Osvaldo apareceu e a substituição do Paulo Miranda melhorou a saída de bola da equipe, que fez um primeiro tempo péssimo, errando muito passes. O São Paulo cresceu no jogo e as oportunidades começaram a surgir. Foi nesse momento que surgiu um dos elementos mais importantes deste time do Galo. Victor. O goleiro quase não trabalhou na primeira etapa, mas quando precisou, fez boas defesas.
E foi exatamente no momento que o São Paulo crescia no jogo, que o Galo deu uma ducha de água fria nas pretensões tricolores. Em um lance bastante simbólico, que resume bem como são as equipe do Atlético ofensivamente e do São Paulo defensivamente. Em uma jogada de gênio de Ronaldinho Gaúcho, pela ponta direta, o craque fez um cruzamento preciso na cabeça de Réver, que fez 2 a 0 para o Galo.
O time mineiro usou uma jogada que sabe fazer muito bem: jogada individual de Ronaldinho e bola alçada na área. E o São Paulo mostrou todo seu afrouxamento defensivo. Em uma das gingadas de R10, Ganso, simplesmente virou as costas para o lance. Apesar de ter uma zaga alta, o time paulista mostrou que sua defesa não tem agilidade para antecipar a jogada aérea do alvinegro mineiro.
Na marra, Aloísio diminuiu para o São Paulo, com uma assistência feita pelo pivô de Luís Fabiano. Porém já era tarde, o Galo conseguiu segurar bem o resultado e saiu do Independência com muito mais do que uma vitória e três pontos. O Atlético viu que tem a possibilidade de chegar longe na competição, que é o sonho de consumo da torcida atleticana.
Enfim, quem gosta de futebol viu uma partida incrível. Raça, malandragem, pegada, jogadas individuais, lançamentos longos e muitos craques em campo. O Galo mostrou que realmente tem um time muito competitivo técnico e com muito vigor. É importante ter a humildade de saber que é preciso aumentar a versatilidade de jogadas, porque o jogo aéreo pode não funcionar sempre. Já o São Paulo sofre com a perda de Lucas, e apesar de ter um time frio e cirúrgico precisa perder a dependência da armação de Jadson e melhorar a transição do meio para o ataque.
O próximo compromisso do Galo na Libertadores é contra o Arsenal de Sarandí, na Argentina, daqui a duas semanas, às 21h45. O São Paulo recebe o The Strongest no Morumbi para tentar a primeira vitória no Grupo 3, no dia 28, às 21h30.
Alfinetada no Cruzeiro
O Galo não perde a oportunidade de tirar uma com a cara do Cruzeiro. O jogo teve um público pagante de 18.167 e estes torcedores não passaram sede. No clássico contra o Cruzeiro, no dia três de fevereiro, com o clube celeste como mandante, faltou água para beber, nos banheiros, papel e muita, muita organização. O Galo imprimiu no selo dos copos de água vendidos nesta noite, no Independência, a inscrição “Aqui tem água”. Eu acho essas provocações válidas demais, principalmente em tempos de um futebol tão burocrático, em que os mandatários brasileiros querem transformar o esporte, que tem uma essência tão popular, em um opera elitizada.

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