quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Exemplo que vem da Holanda


Por Gustavo Aleixo


Seedorf fez contra o Cruzeiro, sua melhor
exibição desde que chegou ao Brasil

Em tempos de Neymar e suas, por vezes, nada objetivas jogadas, surge no futebol brasileiro aquele que faz bonito jogando simples. Ele não é brasileiro e não tem nem de perto a idade da (ainda) jovem promessa brasileira.

Seedorf, 36 anos, é um jogador de rara qualidade em terras canarinhas. Com a experiência e toda a categoria que possui, o craque holandês procura o atalho no campo, a jogada mais fácil, que no final das contas é tão espetacular quanto um drible desconcertante, que para nós aqui é valorizado em demasia. Nada contra Neymar que é um grande jogador, mas eu sou aquele tipo de pessoa que valoriza o jogador que decide fazendo apenas o essencial.

E foi isso que fez o camisa 10 botafoguense contra o Cruzeiro, ontem à noite na Arena Independência. O meia fez uso apenas do passe, do bom posicionamento em campo e de toda a sua categoria na finalização para se tornar o nome do jogo. Apenas os fundamentos básicos do futebol, nada de muito espalhafatoso ou firulento.

O jogador holandês não impôs um ritmo frenético ao jogo. Jogou com uma paciência assustadora, protegendo de forma implacável a bola, para lançar no momento certo seus companheiros ou também para finalizar em gol, sempre com total eficiência. Com esse futebol, o craque fez dois gols, incluindo um golaço de bate pronto digno de um grande jogador, e uma assistência para o terceiro e último gol da equipe carioca sobre o time celeste. Jogada na qual o camisa 10, já veterano, mostrou um poder físico e técnico impressionante quando saiu atrás de Leandro Guerreiro e ganhou do volante cruzeirense na corrida, para depois passar para Jádson balançar as redes de Fábio.

Seedorf além de tudo isso foi um líder em campo e comandou as ações do Botafogo, mesmo quando estava sem a bola. Foi sem dúvida o jogador diferenciado em campo e mesmo nos momentos em que o Cruzeiro esteve melhor, o meia sempre buscou o jogo, e muito em virtude disso, fez uma belíssima exibição. Sorte dos 13.000 pagantes que foram ao estádio e viram esse cracaço de bola jogar.
Seedorf correndo em volta do campo do
Canindé, após partida contra a Portuguesa

Podemos aqui criticar a defesa do Cruzeiro e também o técnico Celso Roth pelas substituições mal feitas no segundo tempo, mas dessa vez vamos, por favor, elevar a categoria de um jogador que é de fato um legítimo camisa 10 dentro e fora de campo. 

Deixemos de lado também todo nosso apreço pela tradicional malandragem brasileira, que por diversas vezes omite o lado controverso de vários jogadores tupiniquins. Valorizemos agora um profissional exemplar como Seedorf que mesmo tendo ganhado tudo que ele ganhou, treina ao final de uma partida na qual ele jogou pouco tempo, como no jogo contra a Portuguesa a algumas rodadas atrás, quando mesmo com a partida encerrada, ele saiu dos vestiários para dar algumas voltas no campo para manter a forma física. Não é à toa que ele sempre manteve durante a carreira o alto nível do seu futebol e ainda hoje é capaz de decidir, como ele fez ontem no Independência, com a maestria que lhe é peculiar.

Fica aí recado para os amantes do nosso futebol descompromissado: um craque se faz dentro e fora de campo, sem toda essa badalação que cerca nossos jogadores, e nada melhor do que acompanhar Seedorf jogando, para ver que essa teoria tem que ser posta em prática no futebol brasileiro. Afinal em terra onde temos Adriano como Imperador, Seedorf tem que ser Rei, não é mesmo?

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