sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Dupla Afiada



Titulares da base do Cruzeiro, Eurico e Bruno Edgar se completam em campo e
prometem manter a tradição de bons volantes formados no Clube

Por Gustavo Aleixo


Fotos: Bruno Senna
Há quem diga que eles são os motores da equipe júnior do Cruzeiro. Tal como o freio e o acelerador, são complementares. Eurico, de 19 anos, primeiro volante, é a cadência, o equilíbrio. Bruno Edgar, também de 19, segundo volante, é a saída em velocidade, o elemento surpresa.

Dentro de campo, os números 5 e 8 de suas camisas somam não apenas qualidade, mas também muitos títulos para a base cinco estrelas. Seguindo o caminho de volantes campeões revelados pelo Clube celeste, como Douglas e Ricardinho, Bruno e Eurico esperam levar para o profissional a parceria que tem feito tanto sucesso na equipe sub-20 da Raposa.

Como foi a trajetória de vocês até chegar onde estão?

Eurico:
Nasci na zona rural de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte. Tive uma infância complicada pela situação financeira da minha família e também porque eu tinha várias crises de bronquite. Morava em um bairro mais afastado e de madrugada era aquela correria para chamar alguma pessoa que tivesse carro para me levar ao hospital. Jamais esperaria ter o reconhecimento e a saúde que tenho hoje.

Bruno Edgar: Minha infância foi toda na periferia de Salvador e foi muito difícil. Quando era menor, cheguei a fazer taekwondo. Eu tinha talento, cheguei à faixa verde e fui vice-campeão baiano, mas logo depois tive que escolher entre o futebol e as artes marciais. Pensando em ajudar minha família, escolhi o futebol.
Tantos desafios na infância trazem ainda mais valor à caminhada de vocês, não é mesmo?

E: Antes de chegar ao Cruzeiro, em 2008, eu treinava no Colégio Magnum. Eu e meu pai sofríamos muito porque não tinha um ônibus que nos levava para o bairro de Peões [em Santa Luzia], onde moro. O treino era tarde e o último [ônibus] era o das 22h. Às vezes, perdíamos o ônibus e tínhamos que andar oito quilômetros a pé.

B: Comigo foi bem parecido. Quando jogava no Bahia, minha mãe dava todo o dinheiro dela para eu pagar o transporte e, às vezes, eu tinha que pegar três ônibus. Pegava só dois e ia a pé até o centro de treinamento para devolver o dinheiro para ela. Deixei de ir ao treino várias

vezes porque faltou dinheiro.

Quais sãs as suas características dentro e fora de campo?

E: Gosto mais dessas coisas caipiras mesmo, como jogar truco, escutar música sertaneja. Em campo, meu estilo é parecido com o do Lucas Silva, marcando bem, distribuindo bem a bola e finalizando com qualidade de fora da área. Também gosto de conversar individualmente com meus companheiros, procurando passar energia positiva e liderar do meu jeito.

B: Sou extrovertido, mas sério dentro de campo. Atuo como um segundo volante que chega como elemento surpresa e a minha principal virtude é a velocidade.


Quais são os seus ídolos?

E: Me espelho no Luiz Gustavo [volante do Wolfsburg e da Seleção Brasileira], que é um cara
discreto dentro de campo, mas que cumpre muito bem a função dele. É um cara que todo mundo confia.

B: Eu vejo muito o Ramires [ex-Cruzeiro, jogador do Chelsea e da Seleção] jogar. É um cara muito humilde fora de campo e, dentro das quatro linhas, é um volante excepcional.

Vocês já treinaram na equipe profissional do Cruzeiro. Como foi essa experiência?

E: Foi muito bacana, até mesmo para eu voltar ainda melhor para o júnior e seguir atrás de vaga em definitivo no profissional.

B: Cheguei a ser relacionado para uma partida do Campeonato Mineiro, contra o Villa Nova. A primeira impressão que tive no Mineirão foi aquele calor da torcida vindo das arquibancadas. Assusta no início, depois você vai se acostumando. Foi, sem dúvida, uma grande experiência.

Como é ser um jogador do Cruzeiro? A fama sobe à cabeça?


B: O cara que nasce na favela não pode se esquecer das suas origens. Não é porque sou jogador do Cruzeiro que posso esquecer o que eu era. Quando vou para Salvador, passo na casa de todos, ando descalço, sem camisa, empino pipa, sempre mantendo a humildade.

E: É bacana. O pessoal te olha diferente, te respeitam mais. Tem que saber lidar com essa situação, não pode deixar subir a cabeça. Nesse ponto, humildade, educação e respeito são essenciais para que você vá longe na carreira.





** Matéria publicada originalmente na edição 121 da Revista do Cruzeiro

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