![]() |
| Fonte: Yahoo Esportes |

Por Gustavo Aleixo
O
árbitro apitava o fim do jogo. Sem pestanejar, eu desligava a televisão e seguia
para o meu quarto sabendo que, no dia seguinte, me arrependeria de não ter me
deitado mais cedo. Consequência comum a quem se arrisca a ver uma peleja
daquelas em uma noite de quarta-feira.
Inconformado
pelo que vi e com os olhos inchados, resultado de tamanha mediocridade em
campo, eu bem que te tentei dormir. Não consegui. Calos em meus olhos me
impediam de fechar as pálpebras, enquanto ideias borbulhantes invadiam a minha
mente, pedindo espaço para uma reflexão em plena madrugada.
Com um
olhar saudosista e uma audácia sem tamanho, me relembrei de alguns textos de
Mário Filho e Nélson Rodrigues que havia lido recentemente. Me fiz a seguinte
pergunta: Como aqueles poetas, acostumados ao primor da arte, transformariam o
futebol atual em poesia?
Como
estes nobres senhores poderiam traçar finos versos sobre nosso futebol
extremamente tático, nossos atacantes que marcam na defesa, mas não marcam
gols?
Quem
sabe algumas palavras sobre números e estatísticas? Uma ode aos nossos
torcedores de teatro, que assistem aos jogos sentados, bradando hinos na segunda
pessoa do singular? Talvez algo sobre “a bola parada que decide jogos”?
Mário
Filho e seu irmão Nelson Rodrigues vivenciaram o modernismo brasileiro,
movimento artístico que influenciou a sociedade brasileira na primeira metade
do século XX. Por sorte, Mário e Nelson não tiveram o desprazer de vivenciar a
tal modernidade que, hoje, atinge o futebol brasileiro.
Na
conjuntura atual, não existe uma tentativa de aliar os ensinamentos europeus
aos valores tupiniquins. Existe sim, uma cópia fajuta daquilo que foi visto por
nós durante a Copa do Mundo de 2014.
![]() |
| A maior tragédia do futebol brasileiro: a derrota por 7 x 1 para Alemanha, na Copa de 2014 (Fonte: Ovácion Uruguay) |
Daí
você, meu caro leitor, pode dizer que existem muitas coisas positivas no
futebol moderno. Eu concordo. A questão é que nós brasileiros só vemos o quão
mal estamos quando, finalmente, o destino resolve nos mostrar que estamos
seguindo a direção errada – olha aí os 7 x 1. Pior que isso. Nós somos uma
representação fiel daquele aluno ordinário que decide aprender alguma coisa
apenas quando a corda lhe aperta o pescoço. Foi assim que “aprendemos” algo
sobre o futebol moderno.
Hoje
fala-se muito em obediência tática, compactação, mas estamos esquecendo que
tais questões são meros complementos. É assim que funciona na Europa. Nós, por
outro lado, suplantamos o talento e fazemos do secundário algo primordial.
Um bom
exemplo são os tão louvados atacantes que voltam até a linha de fundo contrária
para marcar. Não haveria nada de errado nisso se, por acaso, este jogador
cumprisse o seu papel principal: criar jogadas, marcar gols.
Sabemos
que isso não acontece e que muito provavelmente um atacante talentoso – que não
marca tanto – ocupará um lugar no banco de reservas. A equipe jogará com
laterais que não avançam tanto, um camisa 5 “cão de guarda” no meio-campo, mas
ainda assim será aquele companheiro esforçado que atuará no comando de ataque.
E ai se quem estiver de fora reclamar!
Neste
momento, me vem à cabeça uma das grandes reclamações da mídia brasileira: onde
está o nosso bom é velho camisa 10? Eu prontamente respondo: ele está marcando
e não armando. Me parece que a própria semântica dos termos queira me dizer
algo – no futebol moderno, o clássico camisa 10 já não existe mais. Talvez eles
ainda existam, mas eles certamente estão cedendo sua numeração para um volante
que marca e sai para o jogo. Quem sabe este seja o caminho para que os nossos
craques celebrais de outrora sigam atuando em nossas canchas.
![]() |
| Futebol moderno x Camisas 10 clássicos (Fonte: Globoesporte.com) |
Também
me parece curioso que, ao final da Copa de 2014, muitos jornalistas pediam uma
reinvenção na maneira de desenvolvermos as qualidades dos nossos jovens
jogadores. Mas se você perguntar para qualquer treinador da base sobre a sua
filosofia de formar atletas, muito serão categóricos e dirão que valorizaram
primeiramente o talento, trabalhando em segundo plano aspectos táticos e
físicos. Daí eu me pergunto: Onde está o nosso erro? Porque ainda estamos
chafurdando na mediocridade mesmo após a maior tragédia do nosso futebol?
A
verdade é que estou no aguardo do momento em que nossos goleiros serão
obrigados a se tornarem Neuers – mas da maneira errada – sendo avaliados
primariamente pela qualidade com as bolas nos pés e não mais pelo talento em
defender os arremates dos adversários.
Paciência.
É como dizia Nelson Rodrigues: “Na vida, o importante é fracassar”. Espero, então,
que possamos seguir fracassando até o momento que deixemos de ser aquele aluno
que se dedica apenas no final, mas que na verdade não aprende nada.
.jpg)


Nenhum comentário:
Postar um comentário