por Pedro Galvão
Você provavelmente não sabe, mas hoje o Brasil estreia na
Copa do Mundo de Futebol. Sim, Copa, FIFA, futebol e Seleção Brasileira.
Quase igual a do ano passado, só que em vez de homens, são mulheres jogando.
Por isso, você provavelmente não está sabendo ou se importando. Por isso, são
muito menos milhões de dólares envolvidos em negociações e anúncios (e
propinas…). Por isso, nem mesmo as emissoras que detêm os direitos de
transmissão do Mundial, Sportv e Band, dão muito destaque aos jogos, sediados no Canadá (A estatal TV Brasil também
transmite, mas você provavelmente nem sabe qual é esse canal). Por isso, 20 das
23 convocadas do Brasil não atuam por nenhum time, já que o esporte que
vendemos para o mundo, de forma bem charlatã, como nossa maior paixão ainda não
foi profissionalizado para as mulheres por aqui.
Mas não percamos
tempo reforçando uma desigualdade mais que óbvia. Os fatos falam por si só e
tem gente muito mais qualificada por aí para escrever sobre questões de gênero.
Foquemos no futebol. A ideia aqui é apenas questionar alguns dogmas
colocados por nós para justificar nossa má vontade com o futebol feminino.
Seleção Brasileira se preparou durante quatro meses para
o Mundial Feminino do Canadá
– “Não adianta, jogo de mulher é
muito chato”, diz a voz do senso comum, com a compaixão de quem
mata um frango para cozinhá-lo.
Porém, se você
checar as médias de gols dos últimos mundiais femininos e masculinos, vai
constatar que o campeonato das mulheres (2,86 gols por partida em 2011) superou
o dos homens em suas duas últimas edições (2,67 em 2014 e 2,27 em 2010). Por
falar no último mundial feminino, vale lembrar da dolorosa e emocionante
eliminação do Brasil, nas quartas de final, tomando o gol de empate nos
acréscimos da prorrogação e perdendo nos pênaltis para as favoritíssimas
norte-americanas. Essas, por sua vez, foram surpreendidas pelas japonesas na
final, também nos pênaltis, depois de dois gols para cada lado nos 120 minutos
de jogo.
– “Mas o nível técnico é muito
ruim, não dá…”, diz outra voz, cheia de razão.
Como se todo jogo de
homens, pelos quais vibramos, choramos, brigamos e largamos tudo para ver,
fossem primores de técnica e tática, dignos do Barcelona de Messi ou da
Alemanha que humilhou nossos “craques” dentro de casa. Por falar em
craques, entre as mulheres ainda temos Marta em campo pela nossa seleção.
Talvez a melhor jogadora de todos os tempos, capaz de oferecer um belíssimo
repertório de jogadas que não temos visto com frequência em algumas ligas
masculinas que acompanhamos.
– “O problema é que o futebol
deveria ser adaptado para as mulheres, assim como o basquete e o vôlei são, com
rede e cesta mais baixas“, diz outra voz, esta mais aberta ao
diálogo.
De fato, essa prerrogativa
é válida e faz sentido. Por outro lado, se o futebol já excludente com as
mulheres utilizando as mesmas estruturas e equipamentos, imagina precisando de
outros campos e outra bola. O modelo atual favorece, no jogo delas, um estilo
mais cadenciado, menos veloz, de menos força e com mais gols. Características
que a crônica especializada lamenta muito estarem cada vez mais ausentes no
jogo dos homens. Que tal entender que o futebol de mulheres é apenas diferente
do dos homens, e não melhor ou pior? Assim como no masculino, existem jogos
bons e jogos ruins, jogadoras mais ou menos habilidosas, partidas mais ou menos
emocionantes, mas é tudo futebol.
Que fique claro que
ninguém é obrigado a gostar de nada, nem assistir a jogo nenhum que não esteja
a fim. É óbvio que o futebol masculino, por uma infinidade de razões, ainda
desperta muito mais paixões e atenções, tanto nos homens como nas mulheres, em
quase todo o planeta. Porém, que tal se, aqui no ””’país do futebol””, déssemos
uma chance também ao futebol feminino, assim como demos ao football americano e
ao rugby, dos quais morríamos de preguiça até outro dia e hoje somos grandes
entusiastas?
Se não dá para
assistir, acompanhar, incentivar e ir atrás, até pela absurda falta de apoio
das federações, clubes e televisões, PELO MENOS NÃO FALE MAL do jogo
delas. Já é uma grande ajuda. No mais, várias coisas também estão ao seu
alcance, como incentivar sua filha que gosta de jogar bola da mesma forma que
incentivaria o irmão dela, matriculando na escolinha e indo ver os jogos. A
lista de atitudes para um futebol mais legal e inclusivo é extensa, mas para
começar, basta lembrar que futebol não é ‘coisa de homem’, mas coisa de gente.
Ah, e o Brasil
estreia no Mundial Feminino do Canadá nesta terça, às 20h, contra a Coréia do Sul.
O jogo será transmitido pela TV Brasil, pela Band e pelo Sportv 2.
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