terça-feira, 7 de julho de 2015

Oscar, eu não teria feito aquele gol

Até que ponto um gol pode ser considerado "de honra"? (Foto: Esporte UOL)


Por Gustavo Aleixo

       Não, eu não teria feito aquele gol. Na pontiaguda e vexatória goleada sofrida pelo Brasil para Alemanha, por 7 a 1, o gol brasileiro soa como o golpe mais profundo e cruel. Os papéis pareciam invertidos. Quem visse o lance, de maneira isolada, acharia que o Brasil passeava em campo, diante de uma Alemanha abatida, sem forças para impedir que o meia Oscar balançasse as redes de Neuer. Mas o que bem sabemos é que o gol brasileiro, solitário e melancólico, contou com as condolências, diplomáticas eu diria, de uma superior seleção alemã.

       Pouco antes de Oscar finalizar, podia-se dizer que ainda resistia – por que não? – algum lastro de dignidade naquela tragédia. Mas aquele gol, dado de forma tão fácil e constrangedora pela Alemanha, seria o trauma final. Assim que o camisa 11 chutou, o que restava do orgulho tupiniquim viria a morrer segundos depois, aprisionado nas redes daquele mitológico Mineirão. Um desfecho com contornos irônicos, fúnebres até, após um martírio de gols germânicos. O gol brasileiro, aos impiedosos 45 minutos do segundo tempo, poderia não ter existido. Não faria falta alguma.
Oscar precisou ser consolado pelos jogadores alemães ao final da partida (Foto: The Independent)
       Oscar teve a melhor das intenções. Mas, naquela segunda-feira, eu não queria ser Oscar. Muitos menos nesta quarta-feira. O meio-campista poderia passar desapercebido daquela tétrica derrota. Seu futebol eficiente – nada além do normal – e sua timidez adolescente eram seus trunfos. O jogador mal aparecera nos gols alemães. Não seria um alvo. Sem aquele gol, eu repito, passaria desapercebido. Não integraria o grupo, ora composto por Júlio César, Marcelo, David Luiz, Dante e Fernandinho.

       Que fique claro, Oscar não é vilão. Mas é certo que ele poderia não ter feito aquele gol. Se chutasse para fora, estaria livre. Mas sua fleuma e obediência britânicas, recebidas no Chelsea, o conduziram. A regra mandava, e ele não hesitou, “foi lá e fez”.

Oscar e Felipão: eternizados por motivos diferentes (Foto: Esporte UOL)
       Jamais houve tamanha desonra no famigerado “gol de honra”. Oscar comprou a sua passagem para a eternidade, mas não da maneira que ele queria.  Você pode até questionar e dizer que ele tentou fazer o certo. Mas nem sempre o certo é o certo. O gol de Oscar, assim como os sete da Alemanha, tem data para ser reprisado e relembrado: 8 de julho. Daqui até vários e vários anos, veremos alemães comemorando. Diversas vezes. E veremos, também, Oscar buscando, cabisbaixo, a bola nas redes de Neuer.

       Oscar poderia ter passado desapercebido, porém, naquela “briga de bar” entre Brasil e Alemanha, ele tentou apartar, mas acabou recebendo um golpe imerecido, talvez. Tal como aquele curioso, que entra sem querer na cena de um crime, antes que a perícia chegue, Oscar deixou a sua marca. Deixou suas digitais no 7 a 1. Tudo por causa daquele gol.

Abaixo o gol "de honra" marcado por Oscar



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