
por Roberto Rodrigues
Arjen Robben e Bastian Schweinsteiger. Reconhecidamente dois excepcionais jogadores. Junto a Ribèry, com certeza, os melhores do gigante alemão Bayern de Munique. Bayern este, que chegou repleto de méritos à final da edição 2011-12 da UEFA Champions League, após bater o poderoso Real Madrid nas semifinais, e que na decisão de sábado, foi superior ao Chelsea durante os 120 minutos da decisão.
Em 2010, o Bayern também havia alcançado a final da Champions League, e muito em razão do desempenho do holandês Robben. Ele foi o grande destaque da campanha, jogando bem e marcando gols decisivos, como o golaço contra o Manchester United nas quartas. No entanto, na final contra a Internazionale, Robben foi anulado por Chivu, e o time alemão sucumbiu perante os italianos. Ainda em 2010, Robben realizou uma Copa do Mundo abaixo de crítica, mas ainda assim chegou como titular à final, quando teve nos pés pelo menos duas chances claras para definir a partida e levar o primeiro título mundial a seu país de origem, e falhou em ambas.
Diferentemente do colega de equipe, Bastian Schweinsteiger ainda não havia deixado sua equipe na mão em momentos decisivos. Natural da Baviera, o excelente meia chegou ao Bayern aos 14 anos, e desde então nutre grande identificação com o clube e com a torcida. Assim como Robben, foi destaque do Bayern na Champions de 2010, e foi um dos poucos lúcidos no time derrotado na final pela Inter de José Mourinho. Naquele mesmo ano, ainda fez grande Copa do Mundo, conduzindo a Alemanha ao terceiro lugar no pódio.
Com o baixo rendimento da outra estrela do time, Ribèry, na final contra o Chelsea, Robben e Schweinsteiger foram os melhores jogadores da equipe alemã em campo. Robben não tomou conhecimento do jovem Bertrand, que entrou em campo exclusivamente para auxiliar Ashley Cole a marcar o holandês, e criou boas oportunidades se aproveitando de sua principal característica, que é trazer a bola em velocidade da direita para o centro.
Já Schweinsteiger, que vinha atuando como segundo volante, se viu obrigado a atuar na função de primeiro homem à frente da defesa em razão da ausência do volante Luiz Gustavo. E o meia alemão foi ainda melhor que o winger holandês, sendo o melhor jogador do Bayern na decisão. Ele comandou todas as ações ofensivas da equipe, e ainda impediu, durante boa parcela do tempo, que Frank Lampard avançasse para armar o Chelsea. O meia alemão pensou o jogo, trabalhou a bola, arriscou alguns tiros de longe e deu trabalho à eficiente defesa inglesa.
Por tudo isto, o sábado 19 de maio tinha tudo para ser o dia da redenção de Arjen Robben e o dia da consagração de Bastian Schweinsteiger. Diferentemente de 2010, o Bayern chegou à final como favorito. Jogando em casa, contra um Chelsea que foi apenas sexto colocado na Premier League inglesa. O time alemão tinha um ambiente amplamente favorável à conquista, que não vinha desde 2001. E o time correspondeu em campo: jogou melhor, teve grande posse de bola, e dominou as ações por quase todo o tempo. No entanto, o futebol não se explica apenas por números, estatísticas ou por suposta superioridade de alguma equipe sobre outra.
O Chelsea armou um esquema cauteloso, que priorizava fechar os espaços da equipe alemã e impedi-la de adentrar sua grande área. E funcionou. Durante 83 minutos, o Bayern tentou de todas as maneiras. Tentou penetrações pelos flancos, tentou arriscar chutes de média distância, tentou chuveirinhos em bolas paradas (foram 20 escanteios para o Bayern e apenas 1 para o Chelsea), mas faltou objetividade à equipe alemã.
Mas, mesmo com a ineficácia do ataque do Bayern, e apesar da excelente atuação da defesa inglesa, o time alemão conseguiu, por fim, furá-la. Aproveitando cruzamento de Schweinsteiger, o discreto Tomas Müller cabeceou para o chão e deixou poucas chances de recuperação para o excepcional Petr Cech. A torcida em Munique foi à loucura, e os fãs mais pessimistas do Chelsea já se conformavam com a derrota, mas...
Quando tudo parecia resolvido, o Chelsea, que se preocupou durante a maior parte do tempo em se defender, foi obrigado a se lançar à frente. E então, como contra o Barcelona, a objetividade da equipe falou mais alto, e brilhou a estrela de Didier Drogba.Se aproveitando do único escanteio da equipe no jogo, o marfinense testou violentamente para as redes, e contou com uma tentativa não muito feliz de defesa por parte do goleiro Manuel Neuer. Após 83 minutos de batalha por um gol chorado, o Bayern via o Chelsea demonstrar a precisão que faltou a equipe alemã. E o jogo terminou empatado, como desde o início pareciam querer os azuis de Londres.
Veio então a prorrogação, e o jogo dava sinais de estar fadado à decisão por pênaltis. O Chelsea novamente postou 10 de seus 11 jogadores atrás da linha do meio campo, anulando a maioria das jogadas alemãs, até que o apagado Ribèry fez salseiro pelo setor mais frágil da equipe inglesa, o lado direito, e invadiu a área e foi derrubado pelo até então herói Drogba, que passava a ser candidato a vilão da final.
A tão esperada chance de redenção para Arjen Robben não podia ser mais clara. Com um gol àquela altura, o Bayern colocaria novamente uma mão na orelhuda taça da Champions League. Mas quando tudo parecia conspirar para um final feliz para o holandês, Robben falhou de novo. Assim como no Campeonato Alemão, quando desperdiçou um pênalti, e junto a ele, a chance de passar à frente do Borussia Dortmund, Robben teve nos pés a chance de liquidar o Chelsea e a decisão. E novamente falhou. Cobrou mal, e facilitou a defesa de Cech. Talvez tenha falhado também o técnico Jupp Heynckes ao permitir que o holandês realizasse a cobrança. Já está mais do que provado que Robben não mantém os nervos no lugar em momentos como estes, mas ninguém o tirou dali. E Robben novamente caiu em desgraça. Após o pênalti, ele ainda tentou em jogadas individuais, se redimir, mas era tarde. Robben se abalou, e parecia que, para ele, o jogo já estava perdido.
Mas ainda restava Schweinsteiger. Foi na prorrogação que o meia mais chamou o jogo. Praticamente abandonou sua função de primeiro volante, e passou a atuar ainda mais próximo do gol, caindo pelos lados e arriscando ainda mais chutes de longe. Ele bem que tentou, mas não foi o suficiente, e a decisão foi para os pênaltis. E nos pênaltis, Schweinsteiger teve a responsabilidade de cobrar o quinto e último pênalti do Bayern e se consagrar como um dos grandes na história de seu clube de coração. Antes dele, Olic havia desperdiçado sua cobrança, e o Bayern contava com seu prata-da-casa, seu grande jogador em campo para carregar a responsabilidade de manter a equipe viva na disputa...Mas Schweinsteiger também falhou. Falhou e chorou como uma criança. A taça não ficou em Munique, e talvez cairá sobre ele, injustamente, o estigma de vilão da final, de “pipoqueiro”, ou qualquer uma destas bobagens. O título de herói voltou para Drogba, que converteu o último pênalti, e deu o título de campeão europeu ao Chelsea. Para o Bayern, a decepção, e o perigo de um grande time ser lembrado por nomes pejorativos, assim como aconteceu com Baggio, Zico, Platini, e outros tantos gigantes que acabaram falhando em momentos decisivos.
Da decisão da edição 2011-12 da UEFA Champions League, ficam as congratulações ao Chelsea. Apesar de muito poder se discutir quanto à origem do dinheiro que formou o time e quanto ao estilo de futebol adotado para conquistar a competição, é de se louvar a aplicação tática da equipe em função de seu objetivo. O time inglês é mais uma prova de que o estilo defensivista de se praticar futebol tem também seus méritos. Grandes jogadores como Lampard e Drogba podem enfim comemorar o maior título interclubes do Mundo (sim, maior que o famigerado Mundial de Clubes), assim como a torcida, que diferentemente dos jogadores, não foi comprada com dinheiro russo. Parabéns, Chelsea!





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