
por Roberto Rodrigues
A intenção inicial do técnico Celso Roth na partida do Cruzeiro diante do Corinthians não era “imitar” o estilo de jogo da equipe paulista. No entanto, semelhanças entre os dois times são claras. Corinthians e Cruzeiro são dois times que prezam pela marcação forte, às vezes “descambando” para lances ríspidos e desnecessários. Na partida entre as equipes, foram muitas faltas, até para os padrões do Brasileirão. Claro que há um, ou vários, dedo(s) da arbitragem que, como em todas as partidas do Campeonato Brasileiro, marcou faltas inexistentes em lances de divididas normais. Entretando, são duas equipes, no mínimo, duras.Apesar das semelhanças no estilo de marcação, o Cruzeiro iniciou o jogo com uma formação que não “espelhava” o Corinthians. Com uma composição de três volantes de origem, Leandro Guerreiro, William Magrão e Sandro Silva, a equipe celeste iniciou razoavelmente bem a partida, conseguindo fechar os espaços do Corinthians e tendo boa saída nos contra-ataques, mas ainda assim sem conseguir prender a bola no campo ofensivo e nem ameaçar a meta do goleiro Cássio. Já o Corinthians manteve o padrão que vem desde a Libertadores. Como time mais organizado do Brasil que é, mandou a campo sua formação habitual, com um atacante aberto em cada flanco, marcando as ofensivas adversárias pelos lados do campo e também impedindo o avanço dos laterais. O lateral-direito Ceará, que havia estreado bem com a camisa celeste, contra o Flamengo, teve atuação apagada ofensivamente e ainda sofreu para marcar a movimentação dos três atacantes alvinegros. Acabou, exausto, sendo substituído por Marcelo Oliveira. Outro ponto forte corintiano, o meio de campo, teve uma atuação sem brilhos excessivos, mas controlou a partida com precisão e levou a equipe à frente quando preciso. Destaque para Danilo, sempre com boas inversões de jogo e com um percentual de acerto de passes muito superior ao habitual do Brasileiro.
Após o pênalti de Sandro Silva em Jorge Henrique , que deveria ter resultado na expulsão do volante cruzeirense, e do gol de Chicão na sequência, Celso Roth decidiu alterar o time promovendo a entrada de Fabinho no lugar do autor da penalidade. Com isso, o Cruzeiro se posicionou de maneira idêntica taticamente ao adversário, num 4-3-3 clássico. Dois volantes, William Magrão e Leandro Guerreiro, um armador, Montillo, dois atacantes abertos, Fabinho e Wellington Paulista, e Borges na referência. Como já dito, o esquema corintiano funciona, principalmente, pelo esforço dos atacantes de lado na marcação, e também pela pressão exercida por todo o time no campo do adversário, e pela chegada dos jogadores de meio com força à frente, auxiliados pela movimentação sincronizada da equipe, o que faz com que haja sempre uma opção de passe. Para o Cruzeiro, faltou tudo isso.
Nos treinamentos, Celso Roth é sempre enfático nas cobranças à marcação cruzeirense. O técnico quer sempre seus comandados em cima do adversário, fechando os espaços e roubando a bola no campo ofensivo, mas durante os jogos, é raro ver o Cruzeiro pressionando a saída de bola, e boa parcela da culpa está na estaticidade dos atacantes do time. Wellington Paulista, por mais raça que possua e por mais gols que tenha feito em 2012, está muito aquém de ser um jogador que possa cair pelos lados do ataque, fazer jogadas de efeito e auxiliar na marcação da saída de bola. É, no máximo, uma peça de reposição em time que almeja algo grande no certame. Na partida, o jogador não encostou em Borges para buscar tabelas, não correu atrás das subidas adversárias e não imprimiu velocidade aos ataques cruzeirenses. Fabinho, que entrou para ser o par de Paulista, também nada conseguiu, assim como Borges, que tradicionalmente é um centroavante de área e de pouca movimentação, que não pode levar a culpa.
No meio campo, que supostamente deveria trancar as portas da defesa e sair para o ataque com passes precisos, boa movimentação e tabelas, foi outra decepção. Os volantes ficaram sobrecarregados com a marcação dos meias corintianos e não conseguiram se movimentar. Os passes errados, que assim como as arbitragens são um problema geral em todo o Campeonato Brasileiro, assolaram irritantemente o Cruzeiro. Montillo, que deveria ser o responsável por conduzir o time à frente, não só com jogadas individuais, que ele inocuamente vem tentando, mas distribuindo o jogo e ditando o ritmo da equipe, mais uma vez foi mal. Muito marcado e parado facilmente pela marcação do time paulista, o argentino foi, mais uma vez, decepção para a torcida celeste.
No fim da partida, Paulinho deu o golpe de misericórdia nos cruzeirenses, fazendo 2 a 0 em um chutaço de longe, numa jogada em que tudo que falta ao Cruzeiro foi mostrado pelo Timão.
Claramente, Celso Roth busca uma formação e um estilo de jogo que se assemelhe ao do Corinthians. Um futebol que pode ser considerado “feio”, mas que esbanja eficiência numa mistura de técnica e bom posicionamento tático. Méritos para Tite e para a diretoria corintiana que não se desfez do treinador quando a pressão aumentou. Resta saber se a diretoria celeste terá a mesma postura dos corintianos e buscará a manutenção de Celso Roth para que o treinador continue imprimindo o estilo de jogo ao elenco limitado do Cruzeiro em busca da eficiência que Tite conseguiu. Para 2012, o futuro do Cruzeiro não é promissor. Todavia, com algumas contratações e com tranqüilidade para Roth trabalhar, a melhora, que já ocorreu em relação ao time que Vagner Mancini costuma escalar, pode ser ainda maior. Resta saber se a paciência da torcida não irá se esgotar.


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